DIÁRIO DA TARDE

CADERNO 2, 10 de setembro de 1997.

Giro pela história

O ESCRITOR E JORNALISTA JORGE CALDEIRA ESTÁ EM BELO HORIZONTE PARA LANÇAR, DENTRO DO PROJETO SEMPRE UM PAPO, O LIVRO E O CD-ROM VIAGEM PELA HISTÓRIA DO BRASIL, DA EDITORA COMPANHIA DAS LETRAS. O LANÇAMENTO, SEGUIDO DE PALESTRA E DEBATE, SERÁ HOJE, ÀS 20 HORAS, NO PRÉ-VESTIBULAR PITÁGORAS (RUA GUAJAJARAS, 591, CENTRO), COM ENTRADA FRANCA. A PROMOÇÃO É DO SISTEMA ESTAMINAS DE COMUNICAÇÃO, PITÁGORAS E TELEMIG, COM APOIO DA NEWTON PAIVA E RÁDIO GUARANI.

César Macedo

Formado em Ciências Sociais, mestre em Sociologia e doutor em Ciência Política, o paulista Jorge Caldeira sempre teve uma queda pela História brasileira. Iniciando sua carreira como pesquisador de textos para enciclopédias, colaborou nas coleções Nova História da Música Popular Brasileira e História da Telenovela no Brasil.

Depois, dedicou-se exclusivamente ao jornalismo, tendo sido editor da Folha de S. Paulo e das revistas IstoÉ e Exame. Em 94, publicou uma detalhada biografia de Irineu Evangelista de Souza, o Visconde de Mauá (Mauá — Empresário do Império), já dando uma mostra de todo o rigor histórico que é necessário para se reconstruir uma época.

Em sua nova investida contra a tão propalada falta de memória dos brasileiros, Jorge Caldeira resolveu em uma tacada só, ou melhor, em duas — livro e CD-ROM — abraçar toda a História do Brasil. Nessa tarefa, que durou dois anos e meio, estiveram ao seu lado Sergio Goes de Paula, doutor em Economia, Claudio Marcondes, tradutor e editor, e Flavio de Carvalho, responsável pela estrutura interativa do CD-ROM. O resultado final reúne dois produtos de fácil consulta, ricamente ilustrados e recheados de farta documentação.

"O trabalho ficou melhor do que eu esperava, pois acredito que foi possível mostrar a cara do Brasil de forma que o leitor sinta prazer em conhecê-la", avalia caldeira, que espera que Viagem pela História do Brasil atinja não apenas o público em idade escolar, mas todos os brasileiros. Leia a seguir trechos da entrevista que o autor concedeu ao DIÁRIO DA TARDE.

DIÁRIO DA TARDE - O que o motivou a escrever Viagem pela História do Brasil?

Jorge Caldeira - Basicamente, foram duas razões. A primeira foi a de mostrar que o Brasil foi construído por seu próprio povo, por sua própria sociedade, e não por heróis e conquistadores. A outra razão foi uma forma de escapar da violenta desqualificação da história que foi promovida pela ditadura militar. Isso teve uma razão de ser porque, em geral, todo o regime autoritário acha que está mudando profundamente o curso da História, inaugurando uma nova era ou qualquer coisa do gênero. E, para isso, às vezes é preciso borrar e dissimular o passado.

DT - Qual o prejuízo que essa dissimulação causou na população brasileira?

CALDEIRA - O prejuízo foi enorme, porque grande parte dos cidadãos acabou acreditando em versões oficiais que sempre foram divulgadas e propagandeadas. Dessa forma, grande parte da população viveu anestesiada durante a ditadura, pois o cidadão acaba ficando impotente diante de sua própria história e do poder que comanda o País.

DT - O livro e o CD-ROM pretendem fazer uma revisão da História do Brasil?

CALDEIRA - A população é que tem que repensar a História do Brasil, e tomara que esse trabalho sirva como um instrumento para isso. O Brasil é obra de uma nação, das atitudes conjuntas de uma população ativa.

DT - Que aspectos novos ou pouco conhecidos você traz à luz?

CALDEIRA - Em geral, as pessoas acreditam que o Brasil foi feito por causa do comércio exterior com a metrópole portuguesa e tudo que acontecia aqui vinha de fora. Isso é uma idéia que estudos atuais mostram que é completamente superada. A partir do século XVIII, com o surgimento do ouro em Minas Gerais, nossa economia interna era muito maior que o setor exportador. Aliás, foi a partir de Minas Gerais que o Brasil se tornou uma nação, porque interligou a sociedade, que, na época, era totalmente dispersa, propiciando a urbanização e a integração do País.

DT - Essa sua visão não é contrária à de historiadores clássicos, como, por exemplo, Caio Prado Jr., que no livro A Formação do Brasil Contemporâneo afirma que o sentido da colonização brasileira foi o de, basicamente, servir de pólo produtor para a exploração mercantil de Portugal?

CALDEIRA - Sim, minha visão é um pouco diferente, porque alguns historiadores, como Sérgio Buarque, Celso Furtado e Caio Prado, não escreveram seus livros apoiados em informações e pesquisas mais recentes. Assim, trabalharam com documentos oficiais do governo português que, obviamente, tratavam da relação de importação e exportação entre colônia e metrópole. Por isso, nosso País ficou historicamente dividido, por falta de documentação, em um setor de exportação e um de subsistência, que eles acreditavam que fosse relativamente pequeno. Pesquisas atuais mostram que nossa economia de subsistência era imensamente maior do que o setor de exportação, e isso modifica a visão excessivamente passiva que temos da nossa colonização.

DT - O brasileiro, em geral, conhece a História do Brasil?

CALDEIRA - Infelizmente, não. Nós temos uma pobreza de livros que encaram seriamente a História brasileira que chega a ser ridícula essa produção. Por isso, os estudantes conhecem mal a nossa História e os próprios professores também, pois, se não há uma vasta bibliografia, eles vão ler o quê? Se você sair 40 km de Belo Horizonte, é capaz de não achar um livro de História do Brasil em uma livraria. Conhecer a História e ter uma interpretação própria da História são pré-requisitos básicos de cidadania. Quem não conhece a História, é um cidadão de segunda categoria, e o governo militar tem uma grande parcela de culpa nisso tudo.

História contada em CD-ROM e livro

O conjunto Viagem pela História do Brasil, composto de um livro e um CD-ROM, custa R$ 65,00. O livro, que pode ser comprado separadamente (R$ 23), possui 352 páginas e está dividido em 12 capítulos, que vão de Primeiros Encontros até Regime Militar.

Quatrocentas e cinco ilustrações em cores ajudam a compor esse volume sintético da História brasileira, que, já nas primeiras páginas, anota o seguinte dado assustador quanto à destruição dos povos indígenas: "Segundo algumas estimativas, por volta de 1500, cerca de 8,5 milhões de pessoas vivam no território nacional, ao passo que na Independência, em 1822, a população brasileira não passava de 3 milhões de pessoas".

Já o CD-ROM, que não pode ser vendido separadamente, equivale a um livro de 1.500 páginas, ou, segundo Jorge Caldeira, a "três Mauás". Bastante versátil, ele reúne 1.200 temas e mais de 2 mil imagens, trazendo biografias ilustradas e a íntegra de documentos históricos — como o Tratado de Tordesilhas e a Carta de Pero Vaz de Caminha — para que o usuário multimídia possa se aprofundar ainda mais nos acontecimentos. O CD-ROM é compatível com os sistemas operacionais Windows 3.11 e 95.


ESTADO DE MINAS

CADERNO ESPETÁCULO, 10 de setembro de 1997.

História em imagens

Obra em multimídia gera polêmica entre especialistas

Gracie Santos

A dupla livro-CD-ROM Viagem pela História do Brasil, de Jorge Caldeira, Flavio Carvalho, Claudio Marcondes e Sergio Goes de Paula, que hoje ocupa nada menos que o quinto lugar entre os livros mais vendidos de não-ficção no País, tem lançamento hoje, às 20h, na sede do Pré-vestibular Pitágoras dentro do projeto Sempre Um Papo — apoio da Telemig, Pitágoras, ESTADO DE MINAS e Companhia das Letras.

O jornalista e escritor Jorge Caldeira (autor de Mauá, Empresário do Império), que estará hoje em Belo Horizonte para o lançamento, atribui o sucesso da livro-CD-ROM "`a linguagem utilizada, inclusive a nova tecnologia, e à abordagem histórica dada aos fatos". O livro e o CD-ROM, lançados em junho deste ano, estão em segunda edição — colocada ontem no mercado. Até agora foram comercializados 30 mil exemplares. Logo na primeira semana o sucesso era previsível pois esgotaram os 4.400 exemplares colocados no mercado.

Caldeira disse ontem, em entrevista ao ESTADO DE MINAS, que eles queriam escrever um livro que pudesse ser lido no ponto de ônibus. Fizeram isso e mais. Partiram para o CD-ROM que teve toda a sua capacidade esgotada. Tanto que a empresa norte-americana especializada no ramo, a Intel, segundo Caldeira, se interessou pelo trabalho e quer conhecê-lo de perto.

Como no livro-CD-ROM a história do Brasil é contada a partir de seu povo — colocado como personagem principal — Jorge Caldeira diz que eles perceberam de cara que ela se fragmentaria, "pois não falávamos de um sujeito só". Daí a idéia de mostrar os fatos fragmentados em muitos brasileiros, na linguagem de CD-ROM.

A facilidade de navegação é explicada pelo autor com uma historinha: Queria que a minha tia Odete, que iria ler o CD-ROM de qualquer jeito, só porque o seu sobrinho estava entre os autores, conseguisse chegar até o fim. "Seria um vexame se ela não conseguisse", conta, revelando que até teve algumas brigas por isso. Mas no final conseguiram desenvolver uma forma de navegação simples. Quem duvida pode conferir.

Polêmica

Sobre a polêmica criada desde que o pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, Pedro Puntoni, disse em artigo publicado na imprensa paulista que o conjunto livro-CD-ROM tem imprecisões e uma concepção teórica equivocada, Jorge Caldeira diz simplesmente: "Existem duas coisas, uma é a produção acadêmica, e eu tenho também a produção acadêmica, mas não é o caso do livro-CD-ROM. Eles estão fazendo a defesa de um monopólio, do tipo não é feito por nós. Trata-se de uma coisa corporativa".

Pedro Puntoni cita em seu artigo a inexistência de referências bibliográficas, de notas de pé de página, além de "erros históricos" como o fato de o ano da morte de rei dom Sebastião, de Portugal, na página 43, estar grafada em 1580, quando em dezenas de livros de história o ano é 1578. O pesquisador critica ainda o fato de o último capítulo ser intitulado "Regime Militar", alegando que ele não existiu e sim uma ditadura militar. E vai mais longe, na sua opinião, "num arremedo de teoria do Brasil, os autores misturam soluções explicativas que mais formulam uma ideologia pós-tucana de fácil consumo, do que uma visão inovadora". Para ele, o livro e o CD-ROM mostram uma história de final feliz, positiva e antidepressiva.

Jorge Caldeira acha que "eles" (leia-se pesquisadores e historiadores) vivem num mundo fechado, estão apegados à linguagem técnica e escrevem uns para os outros. E afirma que Viagem... não foi feito para eles e sim para o cidadão que não é estudante de 1o grau e quer comprar um livro de história do Brasil e encontra dificuldades, afinal, "ninguém escreve para o brasileiro".

A publicação

O CD-ROM Viagem pela História do Brasil tem textos equivalentes a 1.500 páginas de um livro, onde são abordados todos os aspectos da formação do País e de sua sociedade, abrangendo desde o início da ocupação no território brasileiro até o fim do governo militar, em 1985, com a eleição de Tancredo Neves.

Com uma linguagem acessível e extremamente agradável — quase romanceada — os autores ajudam a entender a mistura de raças, os conflitos sócio-político-econômico-sociais e os entraves ao desenvolvimento sob uma ótica simples e coerente, nem por isso revelada na maioria dos livros didáticos.

VIAGEM PELA HISTÓRIA DO BRASIL — Lançamento do livro (352 páginas/Companhia das Letras) e CD-ROM de Jorge Caldeira, Sergio Goes de Paula, Claudio Marcondes e Flavio de Carvalho, hoje, 20h, no Pré-vestibular Pitágoras (Guajajaras, 591, Centro). O livro é vendido separadamente a R$ 23,00 e o conjunto livro-CD-ROM custa R$ 65,00.


JORNAL DE CASA

SEÇÃO METRÓPOLE, 07/09/97 a 13/09/97.

História do Brasil

No dia 10, às 20h, o Projeto Sempre Um Papo vai lançar o livro Viagem pela História do Brasil, do jornalista Jorge Caldeira (ed. Companhia das Letras). Em 352 páginas em cores, e com um CD-ROM com 1,2 mil temas e 2 mil imagens, o autor reuniu informações sobre a aventura humana de criar uma civilização nos trópicos. Ao todo são 1,5 mil páginas, de um trabalho que consumiu dois anos e meio de pesquisas de uma equipe de 19 especialistas. Entre eles, além do autor, estão Sergio Goes de Paula, Claudio Marcondes e Flavio de Carvalho. O lançamento será na rua Guajajaras, 591.


PAMPULHA

CADERNO ROTEIRO, 06/09/97 a 12/09/97.

Viagem ao saber

Gilson Raslan

Quem está acostumado com erudições como forma de demonstração de conhecimento, pode estar certo: ou o novo lançamento de Jorge Caldeira (autor do consagrado Mauá, Empresário do Império) muda completamente sua forma de pensar, ou o livro e CD-ROM Viagem pela História do Brasil não vai lhes dizer absolutamente nada. De qualquer forma, como frisa o autor, o livro e CD-ROM não são voltados apenas para especialistas em informática ou historiografia. Ao contrário, a publicação pretende popularizar o que normalmente é visto como um reino de erudição.

Além de Caldeira, Viagem pela História do Brasil contou com uma equipe de produção que inclui nomes como o economista Sergio Goes de Paula; Claudio Marcondes, responsável pela edição de imagens e textos; e Flavio de Carvalho, que desenvolveu projetos em vídeo e computação gráfica, e realizou a estrutura interativa do CD-ROM. A publicação, que será lançada no próximo dia 10, no projeto Sempre Um Papo, tem uma proposta bem diferente dos manuais historiográficos do Brasil, lançados ao longo dos tempos.

"A idéia de lançar um CD-ROM não ocorreu por caso", explica Jorge Caldeira. "Faz parte da coincid6encia da lógicas apropriadas nos dois casos — a história brasileira e o CD-ROM".

Caldeira fala do que não foi notado

Caldeira observa que a história brasileira tem sido contada de forma linear, e que esta é a forma mais equivocada de se contá-la. "Os fatos realmente importantes da História do Brasil sempre foram relegados pela historiografia tradicional. São esses acontecimentos que nos interessam e que, a nosso ver, formaram a identidade nacional brasileira". Assim, a melhor forma para se contar uma história não-linear foi o CD-ROM. Quando perguntado se a leitura em tela de computador não seria dificultada, Jorge Caldeira foi enfático: "Sem dúvida, as dificuldades aumentam e algumas passagens podem se perder em virtude disso". Mas, segundo Caldeira, ao contrário de ser um problema, tais dificuldades podem representar um ganho.

As leituras geralmente deixam escapar alguma coisa, sejam lineares ou não. A vantagem do CD-ROM é que sempre há a possibilidade de retorno e uma nova compreensão. Aliás, a história brasileira é feita do que não foi notado. Alguns acontecimentos precisem ser revisitados para que sejam compreendidos".

Durante o lançamento em BH, os espectadores terão a oportunidade de discutir com o autor elementos da história do Brasil. Para aqueles que desejam se comunicar via Internet é só acessar o endereço www.historiadobrasil.com.br

SEMPRE UM PAPO

Dia 10, às 20h, PRÉ-VESTIBULAR PITÁGORAS - R. Guajajaras, 591.


O TEMPO

CADERNO MAGAZINE, 10 de setembro de 1997.

Jorge Caldeira lança livro sobre o Brasil no projeto Sempre Um Papo

Às vésperas de ver a sua mais consagrada obra, Mauá, Empresário do Império adaptada para o cinema, o jornalista Jorge Caldeira chega a BH para lançar o livro e CD-ROM Viagem pela História do Brasil (Editora Companhia das Letras).

Convidado do projeto Sempre Um Papo, antes dos autógrafos, hoje, às 20 horas, no Pré-vestibular Pitágoras, Jorge faz palestra e debate com o público presente. Registro da aventura humana de montar uma civilização nos trópicos, Viagem pela História do Brasil reúne um livro de 352 páginas, em cores, e um CD-ROM com 1200 temas e 2 mil imagens. A obra completa, de 1500 páginas, consumiu dois anos e meio de pesquisas.

Segundo informações da editora, os recursos de multimídia foram empregados no livro não apenas em nome do prazer e entretenimento, mas também para que o leitor-espectador tenha a oportunidade de aprofundar nos temas tratados, já que o universo de escolha é o mais amplo possível. A Viagem... abrange desde o início da ocupação humana no território brasileiro até o fim do regime militar, em 1985.

AGENDA — Jorge Caldeira lança Viagem pela História do Brasil no Projeto Sempre Um Papo. Hoje, às 20 horas, no Pré-vestibular Pitágoras (rua Guajajaras, 591, Centro. Tel.: 281-3796). Entrada franca.


Notas em:

Jornal O Tempo, Caderno Atualidades, 05 de setembro de 1997.

Diário da Tarde, Caderno 2, Coluna de Paulo Cesar de Oliveira, 08 de setembro de 1997.

Semanário Pampulha, Coluna Dolce Vita e Paulo Navarro e Lenora Rohlfs, 06/09/97 a 12/09/97

Diário da Tarde, Caderno 2, Seção Flash, 09 de setembro de 1997.

>Estado de Minas, Seção Gerais/Sociais, 09 de setembro de 1997.

Jornal Hoje em Dia, caderno Cultura, 07 de setembro de 1997.

Diário do Comércio, Coluna Dcestilo, 04 de setembro de 1997.

Diário do Comércio, 10 de setembro de 1997.

Jornal Hoje em Dia, caderno Cultura, 10 de setembro de 1997.


Anúncios:

Estado de Minas, página 6, 9 de setembro de 1997

Estado de Minas, página 11, 7 de setembro de 1997