JORNAL DO ESTADO

CADERNO ESPAÇO 2, 20 de setembro de 1997.

História brasileira para o leitor comum

Jornalista Jorge Caldeira lança livro e CD-ROM que dispensam linguagem técnica ou discussões acadêmicas.

Anna Camaducaia

A História do Brasil é considerada assunto restrito à escola e ao meio acadêmico. Não há publicações específicas sobre o tema e, segundo o jornalista paulista Jorge Caldeira, nos últimos 20 anos, só cinco livros foram lançados dentro da área — com exceção dos voltados ao ensino. Para quebrar esse ritmo, Caldeira lança hoje, às 10h na Livraria Curitiba da Rua das Flores, o livro e o CD-ROM Viagem pela História do Brasil, que reúnem informações do período anterior a 1500 até 1985. "Vou até o Regime Militar porque depois disso não é mais História, é jornalismo. O ponto de partida são dois processo contraditórios: a miscigenação e a escravidão, que influenciaram a realidade atual".

O CD-ROM é o primeiro do gênero. Tem 1500 páginas de texto, duas mil imagens e 90 documentos históricos. "Ele permite contar a História do Brasil do jeito que ela é: fragmentada. Apesar de existir uma certa unidade, nossa História foi feita em lugares e tempos diferentes", diz Caldeira. Para ele, o CD possibilita englobar um maior número de assuntos. "Se colocasse o que tem no CD em livro, teria que fazer quatro volumes com 350 páginas de texto, um atlas e um CD de música", diz.

O livro Viagem pela História do Brasil apresenta apenas o argumento central do CD e serve para consultas rápidas. Com 368 páginas e 405 ilustrações, ele acompanha o CD ou pode ser vendido separadamente.

Autor recebeu críticas de acadêmicos

Os acadêmicos não demoraram muito para criticar o jornalista e escritor Jorge Caldeira, autor do CD-ROM e do livro Viagem pela História do Brasil. Segundo ele, apesar de considerarem o conteúdo interessante, o fato de não apresentarem uma linguagem técnica foi o suficiente para que as obras fossem desvalorizadas. "Os acadêmicos só reconhecem uma obra quando ela tem linguagem técnica, acham que isso garante a qualidade e a verdade. Mas, assim, prova-se que a História é apenas à elite e que o cidadão comum, como sempre, é excluído".

Viagem pela História do Brasil é o terceiro trabalho literário que Caldeira lança no mercado. Os primeiros foram Noel Rosa, de Costas para o Mar (1981) e Mauá, Empresário do Império (1995), duas biografias.

SERVIÇO

Lançamento do CD-ROM e livro Viagem pela História do Brasil. Hoje, às 10h. Livraria Curitiba (Av. Luis Xavier, 78). O preço do conjunto CD+livro é R$ 65,00, e apenas do livro, R$ 23,00.

 


O ESTADO DO PARANÁ

SEÇÃO ALMANAQUE, 20 de setembro de 1997.

Um fim-de-semana que traz livros que contam História

O jornalista e sociólogo Jorge Caldeira, responsável pelo monumental trabalho biográfico do Visconde de Mauá, é um dos signatários do livro Viagem pela História do Brasil. O lançamento acontece hoje, das 10h às 12h, na Livraria Curitiba (Rua das Flores). Editado pela Companhia das Letras, com incentivos culturais, a obra compreende também em CD-ROM.

Além de Jorge Caldeira, o trabalho é assinado por Flavio de Carvalho, Claudio Marcondes e Sergio Goes de Paula. Os autores começam sua narrativa a partir de um Brasil que sempre existiu, muito antes do famoso "descobrimento" que aprendemos nas escolas e que preferem tratar simples e adequadamente como "a chegada dos portugueses". Dos "Primeiros Encontros", onde descreve usos, costumes e tecnologia dos habitantes do país antes de 1500, até o "Regime Militar", último dos doze capítulos que encerra a narrativa na época das "Diretas Já", a obra é fartamente ilustrada e o texto é claro, direto, quase jornalístico.

No CD-ROM que leva o mesmo título, os recursos de multimídia aliam prazer ao que pode ser pesquisa e entretenimento, com a vantagem de permitir o aprofundamento em assuntos de interesse específico, pois contém um volume de texto que equivale a 1500 páginas, além de uma galeria de mais de 2000 imagens que mostram aspectos da formação do País e de sua sociedade.

"A aventura humana de montar uma civilização nos trópicos, contada com uma tecnologia mais avançada, num livro de 352 páginas em cores e num CD-ROM com 1200 temas e mais de 2000 imagens. Uma história onde se cruzam povos, sonhos, guerras, cobiça, beleza e muitas novidades". A descrição, no site www.historiadobrasil.com.br da Internet, sintetiza a proposta do obra.


GAZETA DO POVO

CADERNO G, 20 de setembro de 1997.

História popular brasileira

O paulista Jorge Caldeira lança hoje em Curitiba sua obra polêmica.

Paulo Camargo

O escritor, jornalista e sociólogo Jorge Caldeira autografa hoje, às 10h., na Livraria Curitiba da Boca Maldita, seu livro Viagem pela História do Brasil. A obra, publicada pela editora Companhia das Letras com apoio cultural do Banco BBA, também integra um kit que inclui um CD-ROM homônimo.

Abordando a aventura brasileira desde que o território hoje chamado de Brasil era habitado apenas por índios até a queda do regime militar, o CD-ROM discorre a respeito de 1200 temas no equivalente a quase 1500 páginas, utilizando 2000 imagens.

Em entrevista concedida ontem em Curitiba, Caldeira afirma que em Viagem pela História do Brasil foi utilizado o que há de mais moderno no mundo de hoje em termos de tecnologia para CD-ROMs. "Nem mesmo no mercado americano existe algo do gênero", afirmou o autor. O livro, que está sendo vendido separadamente, é uma versão reduzida do disco, com 352 páginas de texto e 405 ilustrações coloridas.

Segundo Caldeira, o que o levou a realizar esta obra foi a constatação de que há muito poucas obras no mercado editorial que abordem a história do Brasil como um todo. "Se você for a uma livraria, vai encontrar apenas o livro do Boris Fausto, que tem 700 páginas, e nada mais".

Mas o escritor quis ir um pouco além de um mero manual de história. Num projeto bastante ambicioso, ele resolveu escrever uma obra que pudesse ser lida — e entendida — por grande parte das pessoas. Caldeira também disso ter tido a preocupação de abordar a história do país do ponto de vista dos brasileiros, na qual eles pudessem se encontrar inseridos, e não pela ótica das elites.

A postura de Caldeira está tendo efeito bombástico junto ao meio acadêmico. Historiadores o acusam de ter escrito uma obra superficial e sem seguir normas técnicas. Essas críticas, dispara o escritor, são resultantes de uma postura corporativista e de elite, de quem não quer ver o conhecimento democratizado, fora dos limites da academia.