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Chance perdida

As fraquezas de Viagem pela História do Brasil

Por Paulo Moreira Leite

Autor de uma grande biografia do Barão de Mauá, o jornalista Jorge Caldeira lançou Viagem pela História do Brasil (Companhia das Letras; livro e CD, 65 reais) com estardalhaço raro, mas a obra tem uma estrutura que incomoda e erros que assombram. Como uma apostila, é dividida em verbetes que descrevem fatos, episódios, personagens - sem hierarquia, sem ligação entre sí, como um salame cortado em fatias. O começo parece obra de um antropólogo impressionista, ocupado em desvendar o que chama de "liberdade sexual" do povo brasileiro. No meio, o livro-CD revela que o impulso inicial da princesa Isabel foi doméstico - quando soube que Pedro II sofria de diabete. Ao chegar a 1964, Caldeira explica o golpe em função de uma dificuldade contábil - a esquerda defendia "simpáticas" reformas de base mas não sabia como financia-las, o que tornou a queda de Goulart um caso de pura justiça econômica. Há um certo desleixo. Quando fala da morte do lider guerrilheiro Carlos Marighella, o livro-CD diz que foi preso e assassinado no porão militar, mas até os dominicanos envolvidos contam que ele foi executado numa emboscada de rua. Também se diz que o estudante Edson Luís de Lima Souto foi morto a tiros numa passeata no Rio de Janeiro, em 1968 - ele morreu alvejado no restaurante Calabouço. O livro registra a morte de um estudante da Universidade de São Paulo, Alexandre Vanucchi Leme, em 1976, ano em que se vivia a abertura política - Alexandre foi morto em 1973, em plena ditadura. Elaborado a oito mãos, com Caldeira na tripla função de "direção, concepção geral e textos", o livro-CD oferece documentos históricos, biografias, uma trilha sonora agradável e não faz a gentileza de indicar a bibliografia consultada.