Variedades dos índios

O uso de uma única palavra – índios – para denominar o enorme conjunto de habitantes do atual território brasileiro na época da chegada dos portugueses já é indicativo de quão pouco os novos ocupantes aprenderam com os povos que aqui viviam. Somente no final do século XX é que se começou a ter uma idéia, ainda precária, da dimensão cultural, social, econômica e tecnológica dessas civilizações – e o quanto ela foi importante na formação do Brasil. As descobertas científicas recentes revelam um universo muito maior que o comumente registrado em nossa história. Um dos motivos desse desconhecimento foi a devastação que se seguiu ao contato entre europeus e índios. Basta lembrar que os cálculos mais recentes indicam que, por volta de 1500, até 8,5 milhões de pessoas viviam no atual território nacional, ao passo que na época da Independência, em 1822, a população brasileira não ultrapassava 3 milhões de pessoas. Somente na segunda metade do século XIX, com a chegada de imigrantes, a população voltou aos níveis do século XVI. Nesse período de destruição, perdeu-se a dimensão do que estava desaparecendo. Os índios brasileiros formavam um conjunto de nações – algumas com as dimensões e a população dos países europeus da época – e de costumes, língua e hábitos tão variados como esses países. Só agora, no final do século XX, quando restam apenas cerca de 300 mil índios sobreviventes do massacre, essa diversidade começa a ser estudada, demarcada e estabelecida. Mesmo com os trabalhos atuais, essa dimensão original de variedade ainda não foi totalmente recuperada. Ainda se pensa no universo social e cultural pré-cabralino como um conjunto único, algo que na verdade está bastante distante da realidade.

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Área de línguas tupi

Os tupis acabaram sendo os índios brasileiros mais conhecidos, sobretudo porque foram os primeiros a entrar em contato com os europeus. Por volta do ano de 1500, havia tribos tupi e guarani, que falavam línguas aparentadas, em praticamente todo o litoral brasileiro. A variedade era imensa. Ao todo, dez famílias lingüísticas e cerca de cinqüenta línguas diferentes. Como o contato entre europeus e tupis foi maior, em torno destes construiu-se a imagem popular que se tem dos primeiros ocupantes do território. Motivos não faltaram: descrições de padres e viajantes, apresentando os costumes dos tupi como sendo de todos os índios; o uso do tupi pelos europeus para a compilação de uma gramática indígena (depois ensinada até mesmo a povos que não falavam línguas tupi, ajudando a disseminar a língua e a confusão); idealização dessas descrições no período romântico pós-independência, ajudando a reforçar a idéia de que os costumes tupi eram generalizados. Entre as tribos tupi mais conhecidas estão os tupinambás, guaranis, apiacás, cintas-largas e gaviões. De todos os tupis existentes no litoral na época da chegada dos europeus, restaram no final do século XX apenas algumas tribos pequenas em locais esparsos. Além deles, sobreviveram alguns grupos guaranis, sobretudo na bacia do Paraná e em pontos isolados do país.

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Área de línguas gê

Só no século XIX notou-se uma certa unidade de línguas entre as tribos que ocupavam o planalto Central. Até então uma palavra tupi – "tapuia", que designava genericamente todos os outros índios – era empregada para definir os grupos desconhecidos ou os adversários dos tupis. Com a descoberta, foram sendo catalogadas as tribos gê, que ocupavam principalmente o centro do país. Ao todo, já foram catalogadas doze famílias e cerca de quarenta línguas gê. As tribos mais conhecidas são os bororo, xavante, carajá, botocudos, pataxó, caiapó e canela. Os estudos sobre hábitos e costumes dos gê só começaram a ser realizados no século XX, sobretudo por antropólogos. Ainda não se disseminaram no imaginário popular, dominado pelas imagens oriundas da cultura tupi.

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Área de línguas carib

As tribos que falam línguas carib concentram-se sobretudo na região setentrional da América do Sul. No Brasil, há alguns grupos no Amapá, Roraima, norte do Amazonas e Pará, e em áreas isoladas do Mato Grosso. Até hoje foram identificadas 21 línguas desse tronco, sendo as tribos mais conhecidas os atroari e uaimiri.

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Área de línguas arauaque

Constituída por cerca de duas dezenas de línguas, a família lingüística arauaque congrega falantes na região oeste do país e no extremo norte da Amazônia. Essa família lingüística foi identificada apenas no início do século atual. Entre as tribos mais conhecidas que falam as línguas desse tronco estão os terena (no Amazonas) e os parecis (no Mato Grosso). Quase nada dos costumes arauaques faz parte do imaginário comum sobre os índios brasileiros.

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Técnicas nativas

No decorrer do tempo, a vida na floresta tropical acabou tendo, para os índios, um sentido muito diverso do que animava a vida dos europeus. Na Idade Média, a fome era uma constante na Europa, e a existência de seus habitantes organizava-se segundo um ritmo determinado pelas estações. Era preciso aproveitar os poucos meses quentes para plantar e colher, guardando o máximo para enfrentar o duro inverno. Daí a necessidade de se aproveitar ao máximo a terra para o cultivo de alimentos – o que nem sempre era feito com sucesso. Nos períodos de safras ruins, a comida não era suficiente para todos e a fome ceifava os mais fracos. Contra essa realidade, sobrevivia quem trabalhava e acumulava. Construir silos e casas sólidas, juntar elementos para resistir era vital. Somente a partir do século XV, quando a grande epidemia de peste negra matou um quarto dos europeus, a fome deixou de ser uma ameaça constante. Ao mesmo tempo, empreenderam-se esforços para amenizar a rudeza da vida. Um dos grandes motores da expansão européia foi a busca de especiarias, que tornassem menos ruim o gosto da comida no inverno. Os europeus que chegaram à América do Sul encontraram uma realidade oposta. Os índios viviam em contato permanente com a floresta tropical. Havia uma imensa variedade de espécies e uma enorme dificuldade natural para cultivos uniformes (para os quais sempre surgiam infinitos predadores) e para sua conservação (era quase impensável estocar produtos no clima quente). Observar a natureza e conhecer os hábitos dos animais e as características das plantas era muito mais importante que a tentativa de guardar comida por um longo tempo. Dessas observações saía o conhecimento para se obter o grosso dos alimentos. Somente algumas espécies muito favoráveis, como a mandioca eram cultivadas em maior escala. Ainda assim, mesmo sem serem especialistas em agricultura, os índios aperfeiçoaram o cultivo de muitas plantas. Mais que um estabelecimento sólido, era preciso seguir os ditames da natureza: mudar-se quando diminuía a fertilidade do solo (o que acontecia em poucos anos nas áreas cultiváveis, pois elas eram abertas por queimadas), buscar novos territórios de caça, colocar as armadilhas no lugar certo, saber onde estavam os vários peixes em cada época do ano. Do cruzamento de todas essas informações vinham as decisões básicas que afetavam o destino da tribo. Neste cenário de flexibilidade, pouco adiantava construir grandes casas. Melhor era fazer aquelas que se pudesse abandonar sem problemas e seguir a direção da natureza. Também não havia por que concentrar esforços acumulando bens de qualquer tipo. Quase todos os índios tinham muito tempo livre, que empregavam em seus ricos rituais e festas. Este modo de aproveitar o tempo era quase uma necessidade numa região onde se tornara mais prudente seguir o ritmo da natureza do que lutar contra ele. Esse sentido da vida foi inteiramente incompreendido pelos europeus, que havia séculos dependiam da acumulação de bens para sobreviver aos rigores da natureza setentrional. Em vez de adequado, foi entendido como "primitivo" pela quase totalidade dos primeiros europeus que por aqui chegaram. E mesmo depois que aprenderam a tomar banho, alimentar-se dos frutos da floresta, ter filhos com as índias, essa impressão permaneceu e se consolidou.

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Plantas nativas

O domínio sobre a natureza tropical implicava um conhecimento completo e diversificado das plantas nativas. Vivendo em uma floresta com elevado número de espécimes, os índios tiveram de aprender a extrair o máximo de cada planta. Sobretudo as que podiam servir para sua alimentação, as quais, com o tempo, foram sendo domesticadas. Para isso, desenvolveram técnicas de cruzamento e hibridação, de modo a obterem melhores sementes e variedades mais produtivas. Os europeus, quando chegaram ao continente, consideraram a técnica agrícola dos índios "primitiva". Mas logo estavam levando para seus países sementes e formas de cultivo desenvolvidas pelos nativos americanos, que aperfeiçoaram a tecnologia de domesticação e cultivo de alguns produtos agrícolas básicos de toda a humanidade. Entre eles, destacam-se:

•Milho. Na época da chegada dos europeus, era cultivado nas três Américas. Com o tempo, cada uma das milhares de tribos do continente cultivou seus híbridos e espécimes favoritos, numa variedade sem par entre as plantas domesticadas pelo homem. A maioria dos estudiosos modernos concorda que os primeiros a cultivar o milho foram os habitantes do norte da América do Sul, na altura do Equador. Além de usá-lo na alimentação, os índios também sabiam como extrair bebida do milho fermentado.

•Amendoim. A planta selvagem que deu origem ao cultivo encontrava-se numa região que ia da Bahia ao Rio de Janeiro. Domesticada, a cultura difundiu-se pelo interior do continente, chegando às Antilhas e aos Andes.

•Algodão. Os índios da América do Sul não só aprenderam a domesticar e cruzar as variedades básicas de cultivo dessa planta – provavelmente a partir do centro do continente –, mas também já haviam sido aperfeiçoadas todas as técnicas de colheita, fiação, tecelagem e tintura quando os europeus aqui chegaram.

•Tabaco. Espécies nativas dessa planta também eram cultivadas na América do Sul antes da vinda dos europeus. Híbridos cultiváveis foram desenvolvidos e inventaram-se artefatos para fumar a erva em cerimônias rituais.

Além dessas plantas, que vieram a constituir algumas das maiores culturas agrícolas da humanidade, os índios foram responsáveis pela domesticação, cultivo e posterior difusão do uso de dezenas de produtos que hoje fazem parte da dieta de todos os seres humanos. Entre eles destacam-se: feijão, abóbora, pepino, chuchu, batata-doce, berinjela, alcachofra, pimentas, abacate, abacaxi, caju, mamão, maracujá e cacau.

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Animais nativos

Vivendo na floresta tropical, toda ocupada por árvores e com raras áreas de pastagem, os índios que viviam no atual território brasileiro não chegaram a desenvolver o pastoreio em larga escala. No entanto, não raro domesticavam animais, caçando filhotes e criando-os como animais de estimação. Entre as várias espécies assim domesticadas, esporadicamente estavam araras, papagaios, tucanos, macacos, sagüis, cotias, antas, veados e jabutis.

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Mandioca

O preparo da Manihot utilissima (pelo superlativo da denominação científica já se depreende sua importância) é uma grande conquista tecnológica. A raiz da planta, venenosa quando crua, tornou-se a base alimentar de todos os povos que viviam nos territórios da vertente oriental dos Andes, sobretudo pela facilidade de conservação. A raiz da mandioca pode ser utilizada entre seis e dezoito meses após o plantio e sua farinha também dura muito tempo. Vários mitos explicavam o cultivo da mandioca. Um deles, originário da América Central, dizia que "Sumé" ou "Tumé", um homem branco e poderoso que andava sobre as águas e deixava rastros em pedras, certa vez partiu seu bastão e enterrou um pedaço, dando assim origem à planta – a mandioca não é semeada, e seu cultivo se faz enfiando na terra um pedaço de seu talo. Um outro mito, da tradição tupi, diz que a filha de um chefe engravidou virgem; nasceu uma menina, chamada Mani, que morreu após um ano; de seu túmulo surgiu um arbusto desconhecido e pouco depois a terra se abriu, exibindo as raízes da mandioca. O nome viria de Mani-oca, a casa de Mani. O principal produto da mandioca era a farinha seca, farinha de guerra, farinha de pau, uí-atã, para os tupis. Usado ainda hoje, o processo assemelha-se àquele referido pela tradição: a mandioca era descascada e ralada, com o auxílio de instrumentos feitos de espinhos, dentes de animais, cascas de ostras; a massa, ainda úmida, era espremida com auxílio do tipiti (um tipo de prensa de palha), extraindo-se desse modo todo o caldo, o venenoso ácido cianídrico. A massa seca era em seguida levada ao fogo, em grandes vasilhas rasas e redondas. Depois disso, ficava pronta a farinha. Outros produtos feitos a partir da mandioca eram a tapioca, o beiju, a manipueira etc.

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Madeiras e raízes

Dentre as tecnologias aperfeiçoadas pelos índios da floresta tropical, uma das mais fecundas referia-se ao uso de madeiras e raízes em um grande número de situações. O cultivo da terra atendia apenas uma pequena parte de suas necessidades alimentares. Todo o mais era obtido com o aproveitamento dos recursos existentes, numa vasta gama que ia desde a coleta pura e simples até sofisticados processos de exploração em que se misturavam coleta, manejo e cultivo. O caso mais conhecido é o do emprego das palmeiras. Delas se extraía madeira para a construção das casas, fibras para vestimentas, ornamentos, redes e apetrechos de pescaria, goma para fazer pão, seiva para o vinho, frutos para comer, polvilho, sal – e das folhas se faziam cestos. Ao todo, domesticaram cerca de vinte espécies de palmeiras para os mais variados fins. Outras árvores da floresta também eram usadas para finalidades variadas. Delas faziam desde arcos até canoas e perfumes. Também empregavam as fibras e raízes para fazer desde remédios até resinas (a mais conhecida ficou sendo a da seringueira, a borracha). O aprendizado de uma pequena parte desse extenso conhecimento por parte dos europeus foi fundamental para sua permanência no continente. Outra parte dele perdeu-se com a extinção de muitas tribos.

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Pigmentos

O amplo uso de pigmentos foi uma das realizações dos índios. Empregados na tintura de objetos, tinham como uso primordial a pintura do próprio corpo, tanto por motivos estéticos como práticos. Exemplo disso é o urucum, um corante vermelho. Extraído do envoltório da semente da planta, era transformado em uma espécie de goma. O urucum servia tanto para enfeitar o corpo como para proteger do sol e das picadas dos insetos. Outros pigmentos importantes eram o jenipapo (extraído do suco da fruta verde, que em contato com o ar tornava-se negro ou azul-escuro), o pau-brasil (corante vermelho), o anil (de cor azul, extraído do índigo), o andá, a japotapita e o saboeiro.

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Ervas medicinais

Desde o início os europeus se espantaram com o imenso conhecimento que os índios da floresta tropical tinham das propriedades e usos farmacêuticos das plantas. Vindos de uma sociedade que mal começava a dominar com mais eficácia as fórmulas medicinais, os recém-chegados transformaram esse espanto em crítica: embora confiassem em compostos pseudo-terapêuticos de ervas européias, não podiam acreditar nas prescrições indígenas, que eram mais simples e baseavam-se em um número muito maior de espécies. O tempo encarregou-se de mostrar a importância desse imenso conhecimento prático. Cerca de três quartos de todas as drogas medicinais de origem vegetal hoje conhecidas provêm de fórmulas aperfeiçoadas pelos índios. Somente no século XX esse gigantesco cabedal foi reconhecido, ainda que por vias transversas: laboratórios farmacêuticos de todo o mundo conduzem pesquisas a partir de plantas ainda usadas pelos poucos índios que sobreviveram ao massacre do contato civilizatório. Com exceção de algumas rubiáceas, não há nenhuma espécie empregada na moderna farmacopéia cujas propriedades não eram conhecidas pelos índios – pelo contrário, há muitas espécies cujo uso conhecem e que permanecem desconhecidas pelos ocidentais. Os índios aperfeiçoaram remédios e drogas de todos os tipos. Eméticos (a ipecacuanha é o mais conhecido), purgantes (salsaparrilha, batata-de-purga, látex de ficus, entre outros), controladores de distúrbios gástricos, bálsamos cicatrizadores (jaborandi, por exemplo), adstringentes (cambará), anti-hemorrágicos, colírios, anti-térmicos (sobretudo a quinina), anti-diarréicos, antídotos, sedativos, afrodisíacos, anticoncepcionais, anestésicos etc. A farmacopéia indígena incluía também drogas cerimoniais, algumas das quais tiveram seu uso difundido no mundo ocidental; o tabaco e a coca são as mais conhecidas, embora outras fossem empregadas. Os índios conheciam também uma grande variedade de venenos (entre eles o curare e o timbó), além de tônicos e estimulantes, como por exemplo o guaraná e a erva-mate, que acabaram fazendo parte da dieta ocidental.

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Pintura corporal

Embora os europeus dissessem que os índios andavam nus, nada mais estranho para estes que tal idéia. Não precisavam cobrir o corpo, mas as pinturas corporais funcionavam como um código social: cada uma delas indicava uma situação específica (guerra, nascimento de filhos, ritos, luto etc.). Para os que conheciam o código, a pintura informava mais sobre seu estado que as roupas européias. Além disso, também facilitava a comunicação entre tribos que não falavam a mesma língua. Isto porque os índios não se pintavam aleatoriamente, mas usavam motivos baseados na natureza. Padrões como a espinha de peixe, a casca de jabuti, os rastros da cobra, do veado e da onça eram comuns a muitas tribos.

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Importância dos mitos

As reuniões em que se relatavam os mitos aconteciam sobretudo em ocasiões determinadas pelos ciclos naturais: estação de chuvas ou de seca, tempo de plantio ou colheita, época de caça abundante ou escassa. Eram momentos sagrados. Para se ouvir os mitos, era preciso que a audiência saísse do âmbito cotidiano. Usavam-se vestimentas especiais (mantos, penas coladas ao corpo, máscaras de madeira e palha), restritas porém a alguns membros da tribo. Também os alimentos eram outros: tomavam-se bebidas alcoólicas e infusões, e fumava-se tabaco. Suspensos os afazeres do dia, o tempo era regulado pela música, invocações e danças coletivas. Assim agradeciam-se as boas colheitas, pediam-se melhoras no clima, espantavam-se maus espíritos, saudavam-se divindades e ancestrais. Esse era o momento de recontar a história mítica da tribo e assim se contribuía para a manutenção da cultura do grupo.

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Parentesco indígena

A organização do parentesco e de aliança entre os índios estava baseada em uma proibição que se aplicava a todos os membros da tribo. Como esta se dividia em grupos, um indivíduo não podia casar com pessoas do próprio grupo, mas apenas com alguém que fizesse parte de algum outro grupo. Esta regra estabelecia um ordenamento da vida social. Primeiro, definia um conjunto de parentes que não podiam casar entre si e que, por isso, trabalhavam juntos, abrindo roças, caçando, plantando, cuidando das crianças. Depois, esse conjunto de parentes cuidava das relações com outros grupos, estabelecidas por intermédio das uniões obrigatórias com pessoas de fora. Cada união dessas criava uma nova relação de parentesco – e de aliança – com os outros grupos. Assim, um casamento poderia significar um reforço no poderio do grupo.

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Nascimento entre os índios

Em muitas tribos, no momento do parto, o pai cortava o cordão umbilical com os dentes ou com uma pedra afiada. Até que caísse o resto do cordão (em geral, no oitavo dia de vida do bebê), o pai permanecia de resguardo na oca, seguindo uma dieta rigorosa, protegido da luz e do vento. Isto acontecia porque os índios acreditavam que a criança era fruto apenas do pai (e o ventre materno um mero recipiente para o desenvolvimento da criança). A mãe, findo o parto, ia lavar-se no rio e retomava suas atividades. Quando caía o cordão havia uma festa, na qual o filho era apresentado à tribo.

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Puberdade entre os índios

Um importante ritual marcava a puberdade. Meninos e meninas eram separados, indo viver em casas especiais. Os rapazes eram submetidos a uma série de provas pelas quais comprovariam sua força, habilidade e coragem guerreira. Passavam dias no mato, tendo de sobreviver por conta própria; adestravam-se em lutas; por fim, submetiam-se a uma grande prova de coragem, em geral a de matar um animal. As moças, por sua vez, aprendiam o significado das pinturas corporais, as técnicas de artesanato e cultivo, os segredos da vida matrimonial. Todo o aprendizado era supervisionado pelos mais velhos.

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Casamento entre os índios

Completados os rituais de iniciação na vida adulta, ficava-se pronto para o casamento. As índias que já haviam menstruado recebiam um marido; e os rapazes que completavam o período de iniciação, uma mulher. Em geral, estes casamentos eram arranjados pelos membros mais velhos do grupo de parentes.

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Velhice entre os índios

Os índios mais velhos e mais experientes eram muito respeitados. Sobre eles recaía a responsabilidade de direção do grupo. Para isso dispunham de um lugar específico, a casa dos velhos, na qual só entravam os mais idosos. Ali se tomavam as grandes decisões, como a convocação para festas ou guerras, e escolha de líderes. E era na casa dos velhos que se garantia a fidelidade na transmissão dos mitos para o grupo.

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Morte entre os índios

A morte de um índio era acompanhada por uma série de rituais. Depois de chorado por todos os parentes e amigos, o morto era em geral sepultado na própria oca onde vivera. Com ele eram enterrados seus instrumentos (arcos, flechas ou cestos, de acordo com o sexo), e também alimentos para sustentá-lo durante o que acreditavam ser uma viagem pelo mundo dos mortos. Em algumas tribos os mortos eram enterrados em suas redes, noutras em urnas de barro especiais.

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Cestos e arcos

Em algumas tribos, o cesto era considerado símbolo do sexo feminino. Nas redes das meninas era colocado um cesto em miniatura – e daí em diante este era um objeto exclusivo de seu sexo. Os homens que fizessem ou carregassem cestos passavam a viver entre as mulheres e realizar as mesmas tarefas que elas. O arco era o símbolo por excelência da atividade masculina. Desde pequenos os meninos aprendiam a fabricá-lo e iam treinando a pontaria. A maior parte dos índios manejava-o com grande perícia, pois dele dependiam para se alimentar ou sobreviver em guerras.

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Rituais antropofágicos

Dos vários rituais indígenas, o que mais atraiu a atenção dos europeus foi o da antropofagia. Provavelmente surgido em função da época de guerras, o ritual estava muito longe da selvageria. Era antes uma homenagem à coragem do adversário batido em combate. Os guerreiros que caíam prisioneiros recebiam um colar de algodão – e em alguns casos suas mãos eram atadas ao colar. Antes de entrar na aldeia, recebiam tratamento especial: tinham o cabelo cortado e ganhavam cocares das melhores penas. Na entrada, eram saudados por todos com gritos. A vida do prisioneiro não era difícil. Ofereciam-lhe uma mulher, que lhe garantia a alimentação e com quem dividia a rede. Embora proibido de deixar a aldeia, podia andar por onde quisesse e conversar com todos. Muitas vezes, tinha filhos com as mulheres que lhe haviam sido destinadas. A estas, na hora do sacrifício, cabiam várias providências, como preparar as vasilhas e as bebidas do grande evento. Enquanto isso, os homens tratavam de espalhar a notícia, convidando membros importantes de outras tribos. A cerimônia durava vários dias. No primeiro, o prisioneiro recebia uma corda de algodão especial e era conduzido ao terreiro, onde pintavam-lhe todo o corpo. No segundo e no terceiro dias realizavam-se danças em torno da grande figura. No quarto, ele era levado logo cedo para um banho, e só então começava o sacrifício propriamente dito. Sua coragem era testada durante todo o tempo, e esperava-se que demonstrasse altivez para merecer morte tão importante. No quinto dia consumava-se o sacrifício. Pela manhã a mulher se despedia e ia chorar em sua oca. Toda a preparação ritual, as danças e os cantos chegavam ao fim. Armado de borduna, um guerreiro valente o abatia; se caía de costas, era sinal de que o matador iria morrer; de bruços, que a tribo teria grande futuro. Então seus restos eram levados para o lado de uma fogueira. Algumas partes do corpo eram comidas cruas; outras, mais nobres, moqueadas e guardadas.

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Escola de Sagres

Fundada pelo infante d. Henrique em 1417, reunia navegadores, astrônomos, cartógrafos e estudiosos de todo o mundo. Ao contrário do que ocorria na época, quando estudo se confundia com erudição, tinha fins práticos. Tudo ali se voltava para municiar os comandantes dos navios (servidores do rei, e não empregados de comerciantes) para alcançarem seu objetivo: chegar às Índias. A escola funcionou como um centro de alta tecnologia e deu aos portugueses os instrumentos e conhecimentos de que necessitavam para vencer os obstáculos. Todas as descobertas eram guardadas como segredo de Estado, sobretudo os relatórios dos comandantes, que serviam de instrução para o viajante seguinte. Este repetia a rota anterior e avançava mais um pouco. Além de fornecer navegantes para Portugal, a Escola de Sagres acabou servindo a outros países. Tanto Cristóvão Colombo (descobridor da América, em 1492) como Fernão de Magalhães (o primeiro a dar a volta ao mundo, entre 1519 e 1522) foram instruídos ali.

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Astrolábio e quadrante

Desde a Antiguidade, a navegação era apenas costeira. Os navegantes não se arriscavam em mar alto por um motivo simples: não sabiam como se orientar com exatidão. Os portugueses resolveram parte deste problema com auxílio de dois instrumentos: o astrolábio e o quadrante. O astrolábio permitia calcular, a partir da medida do ângulo de um astro em relação ao pólo verdadeiro (o que no hemisfério Norte é relativamente fácil, pois a estrela Ursa Maior fica exatamente sobre o pólo, servindo de referência), a latitude do navio a cada instante. Para medir a altura do astro e chegar a seu ângulo de inclinação – dado básico para o uso do astrolábio –, os marinheiros portugueses em geral usavam o quadrante, formado por um quarto de círculo graduado com dois furos na parte superior e um prumo. Bastava olhar para a estrela ou alinhar a luz do sol através dos dois furos, segurar o prumo na parte graduada e fazer a leitura do ângulo.

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Bússola

Para manter a rota com tempo encoberto, quando era impossível observar os astros, os portugueses recorriam a bússolas primitivas. Elas eram feitas de ímãs em forma de agulha, colocados de forma a girar com liberdade sobre um disco graduado. Como a agulha apontava sempre para o norte magnético, a cada movimento do navio a escala se movia sob a bússola, e o piloto sabia o rumo no momento. Além da bússola, os portugueses desenvolveram uma tabela de correções das imperfeições do instrumento (quanto mais próximo do pólo Norte real, que não coincide com o pólo magnético, maiores os erros de leitura e mais imprecisa a navegação). Os comandantes carregavam consigo o Regimento da Estrela do Norte, no qual constavam as fórmulas de correção. Com isso, conseguiam manter rotas oceânicas no grau de precisão requerido pelas grandes travessias.

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Tabelas e cartas de marear

Um dos mais importantes instrumentos para realizar com êxito as grandes travessias eram as tabelas. Cada uma delas resolvia um problema específico, como calcular as latitudes no hemisfério Sul, empregando como referência o Cruzeiro do Sul; calcular as distâncias percorridas quando se navega com vento contrário; adequar os cálculos de posição do Sol às várias estações do ano; ou medir longitudes a partir das diferenças de medida da bússola. Com todas essas tabelas e instrumentos, os portugueses conseguiam marcar a posição do navio a cada momento num mapa, chamado "carta de marear". Contornando costas desconhecidas, faziam seu desenho no mapa. Na volta, o material novo era trabalhado pelos cartógrafos, que produziam outra carta mais precisa para a viagem seguinte. Além do mapa, o comandante recebia também um regimento, onde vinham escritos os segredos conhecidos de rotas de navegação da região para onde ia – e na volta fazia um relatório onde acrescentava tudo o que descobrira. Assim, num trabalho de equipe, Portugal acumulou, pela primeira vez no mundo, os conhecimentos para cruzar mares nunca antes navegados por europeus.

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Caravelas

Desenvolvida pelos construtores portugueses durante o século XV, a caravela foi o primeiro navio especialmente desenhado para realizar longas travessias marítimas e, ao mesmo tempo, ser uma eficiente arma de guerra e comércio. Para enfrentar mar alto e tempestades, tinha uma quilha longa e velas redondas, de maior resistência, colocadas em posição mais alta que nos navios da época (assim não se perdia capacidade de manobrar depressa, essencial nos combates navais). Na hora da luta, mostrava-se outra invenção portuguesa recente: canhões instalados no tombadilho, capazes de destruir tanto outros navios quanto as defesas de cidades fortificadas. Para dar conta do problema comercial, os construtores simplificaram o desenho, mesmo sacrificando o conforto; havia pouco espaço para os marinheiros e muito para as cargas.

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Rotas para o Oriente

As especiarias eram coletadas por comerciantes hindus e chineses em todo o Oriente, e transportadas em grandes caravanas através do continente asiático até o litoral do Mediterrâneo. Ali eram compradas por comerciantes turcos ou italianos, e redistribuídas pelo interior da Europa. A viagem por mar, apesar de todos os perigos, era bem mais rápida – e menor o número de intermediários. Por isso, cada travessia bem-sucedida gerava lucros enormes, vindo daí a tentação da conquista.

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Tratado de Tordesilhas

A Igreja católica desempenhou papel fundamental em todo o plano português de expansão marítima. O infante d. Henrique tinha obtido do papa o status de cruzada ou guerra santa contra os infiéis para o empreendimento. Havia uma razão para a Igreja aceitar a idéia: naquele momento, os árabes eram uma ameaça real ao Ocidente católico, sobretudo depois de tomarem Constantinopla em 1453. O sucesso da empreitada portuguesa atraiu outros países para a aventura. Entre eles, o mais forte concorrente era a Espanha, seguida pela França. Preocupado com a situação, o governo português recorreu ao papa. Este intermediou as negociações que resultaram num acordo: as terras a serem descobertas seriam divididas entre os dois países. Depois da primeira viagem de Colombo à América, em 1492, o acordo foi transformado num tratado, assinado em 1494. Pelo acordo, um meridiano localizado a 370 léguas a oeste das ilhas Canárias dividiria entre os dois países a posse das terras a serem descobertas. Era uma solução apenas formal. Na época não se conhecia nenhuma fórmula precisa para se calcular longitudes (o que só foi possível três séculos mais tarde). Assim, o Tratado de Tordesilhas serviu mais como acordo de intenções do que como fórmula prática para determinar as fronteiras recém-descobertas ou a descobrir pelos reinos ibéricos.

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Primeiro mapa do Brasil

O governo português sempre teve muito cuidado em esconder as informações sobre suas descobertas marítimas. A arte de navegar em alto mar era a tecnologia mais avançada do tempo, e os portugueses os mais avançados nela. Por isso, todas as informações colhidas nas viagens de exploração das novas terras eram motivo de cobiça para as outras potências européias. Além de marinheiros, a Lisboa do século XV era povoada por espiões de toda espécie, ansiosos para desvendar o que o governo procurava esconder. Como parte dessa política de sigilo, Portugal destruía sistematicamente documentos que poderiam cair em mãos inimigas. Assim, só uma pequena parte dos relatórios de seus navegantes sobreviveu, muitas vezes na forma de cartas de marear. Entre eles, por exemplo, não sobreviveu o de Pedro Álvares Cabral sobre sua viagem ao Brasil e Índia. O trabalho dos espiões acabou sendo revelador de que, na época em que o Brasil foi descoberto, o governo português sabia muito mais sobre as novas terras do que deixava transparecer. O mapa do Brasil mais antigo que se conhece é o chamado "mapa de Cantino". Foi encomendado por Alberto Cantino, espião a serviço do duque de Ferrara, e realizado no final de 1501 por algum cartógrafo português que conhecia as descobertas e amava receber presentes. Até aquele momento, o único português de Portugal a voltar de uma viagem "oficial" ao Brasil era Cabral, que esteve apenas em Porto Seguro, na Bahia. No entanto, o mapa mostra o desenho do litoral brasileiro desde a foz do Amazonas até Cabo Frio, o que indica com certeza que outros viajantes já haviam explorado as novas terras.

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Brasil: madeira ou paraíso?

Os europeus que vieram a bater no Brasil viviam um momento delicado. Saíram de um continente onde a fome e as pestes eram constantes, a morte um fantasma permanente – e os sonhos da mitologia bíblica do paraíso a maior esperança para um futuro numa outra vida. Para gente tão amarga, a chegada a um lugar onde a luz era exuberante, o verde das matas permanente, a comida farta e o clima ameno lembrava uma descrição: a do paraíso no livro bíblico do Gênesis. Ali se falava que Deus, ao criar Adão, o tinha colocado num horto "da banda do Oriente"; que nele, por toda parte, havia plantas agradáveis à vista e boas para comida; que neste horto havia um lago, do qual saíam quatro grandes rios; que ali havia ouro e pedras preciosas em abundância. A visão da natureza tropical, somada à de índios que pareciam viver no mais perfeito estado de inocência, coincidia perfeitamente com as muitas discussões escolásticas medievais, nas quais padres e ocultistas discutiam os trechos da Bíblia, procurando situar o lugar do paraíso na Terra. O próprio Cristóvão Colombo, grande leitor desses textos, foi um dos que acreditou piamente ter chegado ao Paraíso: "Creio que, se passando pela linha equinocial, e ali chegando, lá está o Paraíso Terrestre". Como ele, muitos dos primeiros aventureiros que andaram pela América correram atrás desse lugar mítico. Dois eram os maiores objetos de buscas: a árvore da vida, que daria todo o conhecimento e vida eterna a quem colhesse seus frutos, e uma cidade inteiramente feita de palácios cravejados com pedras preciosas. Na primeira vertente, mais espiritual, andou o espanhol Juan Ponce de Léon; na segunda, mais terrena, Francisco de Orellana. Descrita numa série de textos medievais, a árvore deveria estar plantada bem no meio do Jardim das Delícias. Os anjos, tendo à frente os querubins, a defenderiam do acesso dos mortais. Para se chegar até ela, era preciso guiar-se pelo clima: nem frio nem quente, ameno o ano inteiro. E se os homens não conseguissem vê-la, não importava. Ao menos poderiam tomar a água da fonte que nascia a seu pé, que garantiria a eterna juventude. Ponce de Léon procurou esta árvore onde hoje está a Flórida, mas morreu antes de encontrá-la. A segunda versão do Paraíso terrestre falava de um lugar mágico logo atrás de uma região de terras fertilíssimas e árvores sempre cheias de frutos, rios de ouro, palácios de ouro e prata cimentados por pedras preciosas: jaspe, safiras, esmeraldas, jacintos, topázios... Nos muros desses palácios, resplandescentes como o sol, havia doze portas, cada uma de uma gema. Torres de cristal, com laços de ouro puríssimo, completariam a visão. E para se chegar até lá, caminhava-se por ruas também revestidas de ouro. Tal cidade deveria estar na beira de um lago, chamado Eldorado, no centro do continente do Paraíso. Francisco de Orellana não conseguiu encontrar o lago quando desceu o Amazonas, mas o relato de sua viagem deu a muitos a certeza de que estaria no interior do Brasil – e dele nasceriam o Prata e o Amazonas. Por conta de histórias como estas, alguns autores identificam o nome Brasil não com o de uma árvore, mas com certas lendas célticas. Neste caso, a palavra derivaria de "O’Brazil", com o significado de "Ilha Afortunada", ou a ilha do Paraíso. A seu favor, os defensores da idéia já encontraram mapas feitos a partir de 1367, nos quais ilhas desconhecidas aparecem indicadas como "Braçile", "Braçir", "obrasil", "O brasil" e "hobrasill".

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